Respirar bem para viver melhor

Aconteça o que acontecer...
Continue respirando!

Por trás de nossos atos, palavras e pensamentos, ao longo dos dias e das noites, respiramos. Incessantemente, trilhões de vezes, tão sem esforço que mal dá para notar. Podemos viver muitos dias sem comida, alguns dias sem água, mas sem ar não ficamos nem cinco minutos. A troca de gases que acontece nos delicados alvéolos pulmonares tem de ser constante: entra oxigênio, sai gás carbônico. É a lei básica de sobrevivência. Mas isso não quer dizer que sempre respiramos bem. Prendemos a respiração sem perceber ao levar um susto ou por medo; ficamos sem ar diante de uma notícia grave; nos esquecemos de respirar se estamos preocupados com alguma coisa. Essas paradas refletem um estado de tensão e servem para aumentá-lo. Um fumante acenderia um cigarro nessa hora e daria uma boa tragada. Outra pessoa, com noções de meditação e ioga, faria um esforço consciente para trazer a respiração de volta. Não é só a troca de oxigênio por gás carbônico que interessa: há um ritmo de vida que a respiração comanda, e o movimento do ar, seja puro ou poluído, mexe com a energia mental ao passar pelas vias aéreas superiores.A respiração rápida excita, a respiração lenta acalma. A respiração rápida é forte, curta, incompleta. A lenta é suave, longa, profunda: o ar chega até o fundodos pulmões e traz benefícios aos órgãos internos com sua massagem. O coração – um músculo soberano que precisa bater direito para fazer circular o sangue e as emoções – reage imediatamente às mudanças do ritmo respiratório. O coração não pode ser controlado diretamente, mas obedece à respiração e trabalha de forma ordenada quando ela é tranquila. A vida nas cidades chega quase a obrigar um indivíduo a tomar consciência da respiração. No dia a dia precisamos andar por vias cheias de gente, motos, carros e ônibus poluentes, além disso, a poluição visual, o barulho e os perigos causam um estresse inevitável. Um modo de recuperar o equilíbrio, mesmo no engarrafamento ou na fila do supermercado, é prestar atenção na respiração e fazê-la de forma lenta, longa e profunda. Essa tarefa é monótona: inspira, expira... e contínua: inspira, expira... Poderia ser um tédio, mas não é. Aos poucos passa-se a observar com mais calma a passagem do ar pelas narinas e sua descida pelos tubos respiratórios, o modo como o ar enche o peito e a barriga e logo os esvazia. De repente uma sensação de leveza cintilante toma conta da cabeça. O ato de respirar torna-se grande como o céu e o mar. Nuvens e ondas vão e vêm. Tudo em um espaço interior novo que aumenta a superfície de contato da pessoa consigo mesma. No fim, observar a respiração torna-se uma forma de meditação que pode acontecer a qualquer hora, em qualquer lugar, para aquietar a mente e entrar nessa camada suave de existência. No início pode ser necessário um pouco de disciplina. Por exemplo, contar os tempos de inspiração e de expiração: de um a cinco inspirando, de seis a dez expirando. Quando o ritmo estiver estabelecido, deve-se manter a inspiração em cinco tempos e ir alongando a expiração até quinze ou mais. Em seguida toma-se fôlego, inspirando rapidamente uma boa quantidade de ar para soltá-lo aos poucos. É o que fazemos naturalmente ao rezar, cantar ou recitar mantras, que também nos sossegam. Além disso, quem respira bem é menos prejudicado pela poluição das cidades. As mucosas por onde passa o ar têm cílios minúsculos formando um tapetinho no qual a sujeira fica presa. Basta lavar o nariz e a garganta à noite para livrar-se dela. Por Sonia Hirsch